MMXXII.13 - A CARAVANA PASSA
no passado fim-de-semana, o partido socialista açores realizou o seu 18º congresso regional, na cidade da horta. o primeiro em quase quatro anos, mercê das restrições emanadas da luta contra a pandemia covid-19, e também da reorganização necessária dentro do partido, de acordo com os resultados eleitorais e depois da tomada do governo regional pela tripartida-coligação.
foram três dias de reflexão, de debate interno e de afino de agulhas em torno da moção global de estratégia de vasco cordeiro, intitulada “um combate pelo futuro dos açores! sustentabilidade e coesão”, que nos permitiram analisar, por um lado, as várias razões da perda da maioria absoluta nas últimas eleições regionais, e, por outro, olhar para o futuro que pretendemos para o nosso partido, para o arquipélago e povo açorianos.
três dias de trabalhos em torno da sustentabilidade da nossa região e da coesão das nossas ilhas, cada vez mais ameaçadas por um governo que prefere as quezílias pessoais e partidárias às soluções eficazes e duradouras para os açores; três dias de debates, em torno das necessárias mudanças que o partido socialista tem de operar para ir mais ao encontro da vontade do povo, com menos sobranceria e arrogância de poder, com mais humildade e proximidade de quem o elege; e três dias de reencontro físico entre amigos, camaradas e companheiros de caminhada político-partidária, trocando experiências e práticas em prol dos açores e dos açorianos, após tanto tempo apartados por contingências pandémicas.
foi um congresso necessário e proveitoso, que só pecou por tardio. mas não foi um congresso passa-culpas, apontando o dedo a este, aquele ou aqueloutro; ou um congresso para amolar facas longas e treinar sorrisos falsos, dando uma ideia externa de união quando o interior é desunido; nem tampouco foi um congresso de guilhotina, chop-chop às cabeças que representam sozinhas (para alguns) a perda da maioria absoluta de um partido composto por milhares de militantes e simpatizantes.
não, senhor. foi um congresso de ajuste e arranjo, mas de continuidade, e não podia ter sido de outra forma porquanto o líder é o mesmo e o projecto ainda está para ser implementado. só quem não percebe de política mas de politiquice poderia esperar deste congresso a “exoneração” pública de figuras socialistas, bodes expiatórios de todos os males que nos assolam, como se a flagelação pública dos actores fosse a forma de se corrigir um filme com problemas de som ou imagem.
só quem não sabe trabalhar em equipa, ou nunca fez parte de projectos colaborativos, poderia esperar que este congresso fosse um tribunal sumário, fazendo tabula rasa do passado glorioso e focando apenas o olhar para o presente menos positivo, crucificando na praça pública aqueles ou aquelas que se entendem ter tido culpa mais directa na desgraça, para depois, como pilates, lavar as mãos e arrepiar caminho.
ao contrário de quem faz politiquice e não política, sabemos que um projecto partidário não é – nem nunca foi – a vontade de um ou dois líderes sozinhos. só quem se perde no emaranhado cusco e maldizente das tricas partidárias pode perder de vista que um partido é composto por militantes, por pessoas, dispersas por nove ilhas com realidades próprias e incomparáveis, e que a ideologia não é uma mercearia do deve e haver.
ao contrário dos partidos membro deste (des)governo-tricéfalo, o partido socialista dos açores foi a eleições com um projecto para os açores e para os açorianos, então intitulado “p’ra frente é que é caminho”.
tinha-o quando ganhou as eleições com mais de 40% dos votos dos açorianos e continua a tê-lo mesmo quando não assume o governo regional dos açores. não é falta de digestão, não senhor, é memória, acima de tudo, e lucidez de quem se atém aos factos e não às opiniões ou aos gostos e desgostos pessoais.
o partido socialista ganhou as eleições nos açores e, ao contrário do que aconteceu no continente, o seu programa de governo não foi rejeitado pelo parlamento açoriano. aliás, nem lá chegou, graças ao nosso maravilhoso representante da república – que só na decisão de afastar os socialistas do poder encontrou eco e utilidade na boca de quem sempre o desconsiderou e desejou a extinção do cargo.
por isso, o partido socialista açores acreditava que “p’rá frente é que é caminho” e que o caminho se faz caminhando antes das eleições e continua a acreditar depois da coligação; o partido socialista açores tinha um projecto para os açores, no qual votaram inconfundivelmente 40% dos açorianos, e é esse projecto que seguirá, mais ajuste menos ajuste, porquanto sufragado, porquanto construído para e pelos açorianos, na caminhada que o partido socialista açores pretende estruturada e com visão de futuro para os açores.
que é como quem diz: para quê mudar o conteúdo, se o problema é de forma? para quê operar alterações de cosmética, anunciá-las a bóreas, zéfiro, euro e noto, quando na verdade é só para o povo ver e quando chega a hora h é um tal tirar bertinhas e duartinhos do armário para compor secretarias e pagar mártires partidários?
para muitos, este era o congresso onde rolariam cabeças, pinchando nos degraus da sociedade amor da pátria até à calçada do passeio, para que as hienas e os abutres se refastelassem a escrever e a comentar os tão costumeiros “pois, eu já sabia”, “claro está que eu já o inha dito”, “ora como eu tão bem já tinha escrito” e blá blá blá para encher peitos e egos dos ódios de estimação.
para muitos, este era o congresso do novo rumo do partido socialista, quiçá um rumo transformista – trocando alhos por bugalhos – para depois navegar como o psd navegou, eleição atrás de eleição, sempre a mudar, sempre a “renovar”, sempre a dispersar e a queimar líder atrás de líder, para não ser o mesmo, e para, no fim, quando se governa, repescar um a um como beija-mão e lava-pé dos cordeiros de deus, sacrificados em horas de tão má memória.
para muitos, este era o congresso que deveria ter sido aquilo que nunca foi nossa intenção. como se desempenhássemos um papel escrito num guião, sendo expectável que nos movêssemos de acordo com o habitual. temos pena.
para nós, militantes, açorianos e açorianas que acreditam no projecto do partido socialista, este foi o congresso da legitimação das equipas em torno da moção apresentada, da definição e disseminação da estratégia político-partidária, e do reencontro de quem luta todos os dias, em várias frentes, para melhorar a vida de todos os açorianos e as açorianas do nosso arquipélago, sem deixar ninguém para trás.
apesar de militante socialista, o que me move não é o partido socialista per se, são a minha terra e os meus conterrâneos.
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