MMXXII.26 - PAN (ASCO)
o prefixo “pan” chegou até ao português (e outras línguas) através do grego pan, pantós, que significa “todo; inteiro”. é um elemento de formação de palavras que exprime a ideia de “todo, tudo, inteiro, completo” e é seguido de hífen quando o segundo elemento começa por uma vogal ou pela letra h.
exemplos desta derivação prefixal são palavras como “panteísta” – aquele que crê que o universo, a natureza e deus formam um todo; ou “panaceia” – aquele medicamento para todos os males; ou “pan-europeu” – aquilo que diz respeito ou afecta toda a europa; ou, agora sim, para terminar a enumeração, “pandemia” – todo o povo. e desta lembramo-nos todos muito bem.
ora, para lá da divindade da mitologia grega, com domínio sobre o selvagem, pastores e rebanhos, e sustentado nas suas patas de cabra enquanto toca a sua flauta, naquela que é a romântica ideia do deus grego no seu ambiente natural, “pan” também é, em portugal, o acrónimo do partido político “pessoas-animais-natureza”, fundado em 2009 por paulo borges.
o partido tem a feliz coincidência de funcionar como acrónimo directo em várias línguas para além da portuguesa: people-animals-nature; personnes-animaux-nature; persone-animali-natura, entre outros, para lá do inglês, francês e italiano aqui apresentados.
diz-se um partido de causas. defensor dos direitos humanos, dos animais e da natureza. assim, dispostos lado a lado. provocando aquela natural dúvida se se trata de um partido defensor dos direitos humanos, dos direitos dos animais e dos direitos da natureza, ou se, por outro lado, é um partido defensor dos direitos humanos, e defensor dos animais e defensor da natureza.
penso que a confusão é propositada e bem conseguida, porquanto permite arregimentar uma massa mais substancial de apoiantes de causas. é que as “pessoas”, os “animais” e a “natureza”, dispostos assim, lado a lado, em pé de igualdade, como se de iguais as causas se tratassem, até nos fazem perder o sentido de como o ser humano pode ser, afinal, este antro de podridão que tantas vezes nos faz perder a esperança na humanidade e na redenção final.
como já deve ter sido perceptível, o “asco” a que se refere o título desta crónica está, obviamente, relacionado com o “pan” de pessoas-animais-natureza e não com o “pan” grego. esse, coitado, já tem sarna para se coçar no seu dia-a-dia de deidade.
assim entendido, denotativamente saído do dicionário, ou rato, mais à mão que se tenha, e dependendo do meio de acesso à informação, a ideia de “asco” pode ser, de uma forma genérica, descrito como “nojo”.
alguns dicionários descrevem “asco” como “aversão”, “repugnância”, “engulho”; alguns elaboram mais qualquer coisa e dizem ser um “sentimento de aversão por tudo aquilo que é considerado repugnante”; outros que é um “sentimento de repelência, de odiosidade, rancor ou malquerença”; sendo que a minha favorita é a poética definição de “asco” como uma “repugnância natural direccionada ao que é excessivamente hediondo”.
bom, o asco que tenho ao pan-pessoas-animais-natureza tem que ver especificamente com a actuação da sua líder, inês de sousa real, e o facto de ter, muito recentemente, mostrado grande relutância em permitir o levantamento da sua imunidade parlamentar para responder em tribunal num processo de alegada difamação.
no dia 6 de julho de 2020, no jornal da noite da tvi, em debate com miguel de sousa tavares – defensor da tauromaquia –, a deputada do pan – opositora à tauromaquia – afirmou que o veterinário e empresário tauromáquico joaquim grave tinha várias teses de doutoramento, havia orientado várias teses, nas quais reconhecia não só que o touro sofria como também que só investia porque não tinha opção de fuga.
mentiu para ganhar um argumento. mentiu deliberadamente, e beneficiou da dúvida porque não houve tempo para contraditório.
ora, o dr joaquim grave entendeu ser grave que alguém afirmasse o contrário daquilo que tem sido o seu trabalho académico sobre questões relacionadas com o bem-estar animal na tauromaquia, particularmente o touro, e sentiu que o que defendia não era nada do que inês sousa real afirmara em horário nobre na televisão nacional e decidiu mover uma acção em tribunal contra a senhora deputada por difamação.
com toda a legitimidade, uma vez que se trata de propriedade intelectual que importa salvaguardar pelo seu autor sempre que a sua integridade seja ameaçada. e no mesmo sentido decidiu a comissão de transparência e estatuto dos deputados, em reunião da comissão na no dia 29 de novembro, quando decidiu pela autorização do levantamento da imunidade parlamentar da líder do pan.
não esteve presente na votação do levantamento da sua imunidade parlamentar, a inesinha. todo os partidos foram a favor do levantamento da imunidade parlamentar de inês sousa real excepto o asco e o psd. ditos assim, lado a lado, quase rimam, vejam lá.
no entanto, o que mais asco me causou nem foi a inicial cobardia da deputada ao invocar a imunidade parlamentar para fugir com o cu à seringa, porque todos sabemos que a inês é menina da cidade e nunca viveu no campo, à excepção das suas estufas manhosas, mas isso são outros terços.
o mais nojento é a senhora considerar que o levantamento da sua imunidade parlamentar “é manifestamente desprovido de qualquer razão de ser”, alegar que é “contrária ao princípio do livre exercício do mandato parlamentar, à liberdade de expressão e de ação política e, em última análise – atentos os contornos concretos do caso – representaria uma tentativa de coação e de silenciamento político (...)”.
um discurso digno de uma vítima de perseguição política… por favor, haja alguém que explique à inesinha, nê, nenê, nês, nenoca, inuecas, nessa, que a liberdade de expressão é precisamente isso: a menina foi livre de dizer o que quis, agora é de novo livre para responder em tribunal pelo que disse.
especialmente quando andou a dizer mentiras.
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